Sete Razões porque Deus Envia Aflições - por William Perkins

Sete razões porque Deus envia aflições. Foto por Gadiel Lazcano (Unsplash.com)

O quarto fundamento para o conforto nas aflições é que cada aflição sobre os servos de Deus tem alguma benevolência especial: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28).[1] Em relação a isso, as cruzes que são suportadas pelos filhos de Deus estão longe de serem prejudiciais a sua salvação, pelo contrário, são um auxílio e uma promoção da mesma. Esta benevolência é percebida de duas maneiras: primeiro, pelos frutos e seus efeitos; e segundo, pela qualidade e condição destes frutos. Em respeito a ambas, as aflições são boas.


Frutos de Aflição


Visto que são diversos, reduzirei os frutos de aflição em sete tópicos.


1. Consideração dos pecados


Primeiro, as aflições fazem o homem ver e considerar os seus pecados. Os irmãos de José, por vinte anos, estiveram pouco (ou nem sequer estiveram) aflitos pela sua maldade em vender o seu irmão; mas sob as aflições do Egito, eles começaram a considerar o que fizeram: “Na verdade,” eles disseram, “somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia.” (Gn 42.21). Manassés, no seu tempo de paz, se entregou à feitiçaria e ao culto dos deuses estranhos. Mas quando esteve cativo na Babilônia, ele foi trazido à visão dos seus pecados e se humilhou perante Deus.


2. Humilhação diante de Deus


Segundo, as aflições servem para humilhar o homem em suas almas diante de Deus. O jovem imprudente narrado no Evangelho, chamado de filho pródigo, gastou liberalmente toda a sua herança, enquanto durou, e foi afligido pela sua miséria.[2] Mas quando a fome apertou, e isso por causa de sua própria loucura, então ele se humilhou diante de seu pai e voltou para casa (Lc 15.17). Davi disse de si mesmo: “Eu dizia na minha prosperidade: Não vacilarei jamais. Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste forte a minha montanha; tu encobriste o teu rosto, e fiquei perturbado. A ti, Senhor, clamei, e ao Senhor supliquei.” (Sl 30.6-8).


3. Arrependimento dos pecados


Terceiro, servem para exercitar o aperfeiçoamento da vida. “toda a correção,” diz o autor da Epístola aos Hebreus, “ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” (Hb 12.11), ou seja, as aflições e as correções que se apoderam dos filhos de Deus resultam no aperfeiçoamento de suas vidas, assim como a agulha que passa pelo tecido e deixa para trás a costura feita.[3] “Mas, quando somos julgados,” diz o apóstolo, “somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” (1Co 11.32). E Davi confessa: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.” (Sl 199.71). E o bom lavrador poda e limpa a videira, para que possa dar mais e melhores frutos (João 15).


4. Auto-negação


Quarto, elas fazem o homem negar a si mesmo e confiar completamente na misericórdia de Deus. Assim, Paulo recebeu “a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2Co 1.9).


5. As aflições nos fazem clamar por Deus


Quinto, produzem invocação, pois as aflições nos fazem clamar sinceramente e fervorosamente por Deus, para nos levarmos a Sua presença e lá nos humilharmos perante Ele. Assim, o Senhor disse dos antigos israelitas que: “Quando os matava, então o procuravam; e voltavam, e de madrugada buscavam a Deus.” (Sl 78.34). E em outro lugar, Ele diz dos Seus filhos que “estando eles angustiados, de madrugada me buscarão.” (Os 5.15).


6. Paciência


Sexto, produzem paciência: “a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência” (Rm 5.3-4). É como se o Apóstolo dissesse: “porque o amor de Deus está derramado em nossos corações, somos pacientes nas aflições”. Enquanto pacientemente suportamos a cruz, temos a experiência da misericórdia e do amor de Deus para conosco. E tendo experimentado e provado da misericórdia de Deus, em algum livramento marcante, por essa esperança, prometemos a nós mesmos (por assim dizer) o dito favor e misericórdia para o tempo que está por vir.[4]


7. Obediência


Sétimo, o último fruto produzido é a obediência. O Espírito Santo ensina que isso foi o fruto do sofrimento de Cristo, quando diz: “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.” (Hb 5.8). 


As aflições são a garantia de Deus da adoção dos cristãos


E em último lugar, as aflições são boas em relação a sua qualidade e condição, a saber, que são os sinais e as garantias da nossa adoção, quando fazemos o melhor uso deles: “Se suportais a correção,” diz o Espírito Santo, “Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?” (Hb 12.7). Isto é, Ele vem a você na cruz, não como Juiz ou Vingador, mas como um Pai bom e amoroso. E a cruz a nós imposta é (por assim dizer) a Sua Mão paternal, por meio do qual Ele nos corrige. Assim, Jó louva a Deus pela sua aflição, dizendo: “o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1.21).


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Traduzido do original inglês: https://purelypresbyterian.com/2022/12/06/seven-reasons-god-sends-affliction/ Acesso em 01/01/2023.


Extraído de: Cases of Conscience In: Works VIII, p. 179-181


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NOTAS DE RODAPÉ


[1] N.T. Todas as passagens estão na versão Almeida Corrigida e Fiel


[2] N.T. No original: The young unthrift in the gospel, called the prodigal child, while his portion lastes, he spent liberally, and was grieved for nothing.


[3] N.T. No original: that is, afflictions and chastisements that seize upon God's childres do leave after them amendment of life, as the needle passes through the cloth and leaves the thread behind it.


[4] N.T. No original: we do by hope (as it were) promise to ourselves the said favor and mercy for time to come.





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