O Princípio Regulador do Culto - por G. I. Williamson

Escultura na Catedral Presbiteriana do Rio, retratando a primeira Santa Ceia protestante em terras brasileiras.

Artigo apresentado no International Conference of Reformed Churches em 2001[1]


Por G. I. Williamson


Neste artigo tentarei fazer cinco coisas:


1. Primeiro, tentarei explicar claramente o que é o Princípio Regulador do Culto[2] e qual a sua origem. Afirmo que é um princípio apostólico ensinado de forma clara tanto no Novo, quanto no Antigo Testamento, e que esse preceito — bem como a sua prática — é normativa para a igreja até a volta de Jesus. Referirei a esse princípio, em todo o artigo, como PRC.


2. Farei referências aos ensinamentos e práticas de João Calvino.


3. Continuarei a mostrar como esse princípio foi fielmente articulado nos catecismos e confissões reformadas, e aplicadas com integridade na prática de culto das igrejas reformadas e presbiterianas durante o período histórico no qual nossas confissões reformadas foram formuladas.


4. E então, me esforçarei para mostrar como as igrejas reformadas e presbiterianas, nos tempos atuais, têm deformado o PRC ao ponto de rompê-lo.


5. E, finalmente, exporei minhas conclusões e sugestões para reformas pouco modestas que são urgentemente necessárias.


1. O Princípio Regulador Explicado e Defendido


Deixe-me explicar de forma simples o que entendo por PRC. É a aplicação do princípio fundamental da Reforma (Sola Scriptura) à esfera da adoração, e nunca foi tão bem expressado sucintamente do que consta no Catecismo de Heidelberg. O catecismo pergunta (questão 96): "Que exige Deus no segundo mandamento?" E a resposta é: "Que não façamos a imagem de Deus em hipótese alguma, nem O adoremos de nenhum outro modo diferente do que nos ordenou em Sua Palavra." Conforme Zacarias Ursino —  um dos autores (se não, o autor) desse catecismo — explicou: "O fim, ou a forma (design) desse mandamento é, que o verdadeiro Deus [...] seja louvado sob uma forma apropriada [...] conforme Lhe apraz, e não com aquele culto que é conforme a imaginação e os dispositivos do homem [...] [e] que o culto a Deus, conforme prescrito, seja preservado puro e incorruptível."[3] Ou então, para dizer o mesmo de forma mais sucinta: "Louvar verdadeiramente a Deus é louvá-Lo da maneira que Ele mesmo prescreveu."[4]


Suporte Direto das Escrituras a favor do PRC

É importante notar que a palavra "ordenado" não deve ser entendido como significando apenas o que é encontrado nas Escrituras em forma de mandamentos diretos, verbais. Não há mandamentos diretos, verbais, por exemplo, que diz — em muitas palavras — que devemos batizar crianças. E é justamente por isso que as confissões reformadas não apenas usam o termo "ordenado", mas também "instituído" e "prescrito". Se for possível mostrar que uma prática de culto tem sanção ou aprovação apostólica, então essa prática de culto tem tanta força normativa, quanto teria se viesse em forma de um mandamento direto. Ou, para dizer o mesmo de outra forma, se descobrirmos que uma certa prática tem sanção apostólica, isso seria prova suficiente de que tal prática é algo que o Senhor ordenou. Em outras palavras, vemos que nem tudo que foi ordenado pelo nosso Senhor está registrado nas Escrituras na forma de mandamentos diretos. Mas, por uma boa e necessária inferência delineada das Escrituras, podemos ter certeza do que tem —  ou, num sentido inverso, não tem — autorização divina.


O PRC é mais claramente ensinado no Antigo Testamento. Mesmo aqueles que querem modificar — ou eliminar completamente — o PRC, estão dispostos a admitir [isso].[5][6] Uma vez que o santuário central foi estabelecido em Israel (no Tabernáculo, na época de Moisés, e, mais tarde, no Templo, na época de Salomão), o único lugar onde sacrifícios poderiam ser oferecidos a Deus, com Sua aprovação, foi nesse local. Nenhum culto poderia ser oferecido a Deus, exceto na dependência da mediação sacerdotal prescrita, que foi efetuado por meio desses sacrifícios. Pois "sem derramamento de sangue", no lugar e da maneira prescrita por Deus, não poderia haver — assim como também não poderia hoje — remissão de pecados (Hb 9.22). A relação do crente do Antigo Testamento com o Tabernáculo ou Templo, em outras palavras, foi análogo a nossa relação com o santuário celestial (Hb 12). Assim como na velha Israel as pessoas cultuavam em direção ao[7] santo templo de Deus, também hoje há ainda um único centro para o qual todos nós devemos olhar pela fé, a saber, o santuário celestial onde o nosso grande Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus, faz intercessão por nós.[8]


Quando o nosso Senhor se reencontrou com Seus discípulos depois de Sua ressurreição, disse: "É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mt 28.18-20).[9] As palavras em itálico são de grande importância no entendimento do PRC na igreja cristã, pois fica claro a partir dessas palavras que não há autoridade legítima na Igreja Cristã que não seja encontrado no, ou recebido do, Senhor Jesus Cristo. Mesmo os Apóstolos — que juntos com Cristo e Seus profetas são o fundamento da Igreja (Ef 2.20) — não têm [essa] autoridade, exceto o que receberam Dele. Assim, creio que Calvino entendeu essas importantes palavras do nosso Senhor corretamente, quando ele escreveu: "ele envia os Apóstolos com sua ressalva de que eles não deverão entregar suas próprias invenções, mas devem entregar pura e fielmente, de mão em mão (conforme Ele disse), o que Ele lhes confiou."


Jesus mostrou aos seus apóstolos como tradições criadas pelo homem de alguma forma anulam os mandamentos de Deus (Mc 7.1-13). E que os apóstolos não esqueceram essa lição, fica claramente evidente em seus escritos. Eles não ensinaram qualquer doutrina que não receberam do seu Senhor (cf. Gl 1, Jd 4). Nenhum deles sancionou qualquer prática de culto que não receberam Dele. Isso fica claro no que o Apóstolo Paulo escreveu, em relação ao sacramento da Santa Ceia, "...Porque eu recebi do Senhor", ele escreve, "o que também vos ensinei..." (1Co 11.23). Desde que ele foi cuidadoso em passar exatamente o que recebeu de seu Senhor, não é surpreendente que fale autoritativamente  — de novo e de novo — sobre o que era, e o que não era, para ser permitido na prática de culto das igrejas apostólicas (1Co 14). Mulheres, por exemplo, não foram permitidas a falar durante o culto público (1Co 14.34-35). Homens, ao contrário — incluindo aqueles que receberam dons de revelação especial pela imposição de mãos dos apóstolos — eram sujeitos a regulação estrita (1Co 14.27-32). E desde que os apóstolos ousadamente afirmaram que estavam ensinando "todo o conselho de Deus" (At 20.27), não é surpresa que eles emitiram uma severa advertência a qualquer um que cogitasse desobedecer a sua autoridade (1Co 14.37).


Apesar dos ensinos fieis dos apóstolos, a tendência de se afastar do que Deus ordena, em favor do que o homem quer, foi claramente evidente nas igrejas apostólicas. De tempos em tempos, sempre se mostrou claro que houve um desejo de estar novamente na servidão dos elementos fracos e pobres do culto cerimonial do Antigo Testamento (Gl 4.9-10). Alguns também foram muito dispostos a se submeterem ao jugo dos "preceitos e doutrinas dos homens" (Cl 2.22), os quais os apóstolos chamaram de religião humanamente imposta (v23). Os apóstolos queriam que as pessoas se submetessem a uma religião divinamente imposta! Mas assim é a natureza do homem — sim, mesmo a dos homens regenerados —, que frequentemente a religião humanamente imposta foi (e ainda é) muito mais atraente. Nenhuma surpresa há no que o Apóstolo disse: "Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco." (Gl 4.11).


Suporte Indireto das Escrituras a favor do PRC


É também importante notar a conexão entre o PRC e dois[10] outras grandes doutrinas entregues a nós pelos nossos pais reformadores. São esses: (1) os limites do poder da igreja e (2) os direitos da consciência individual do cristão. Conforme a Confissão de Fé de Westminster formulou (1) "Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa."[11] E (2) "Só Deus é senhor da consciência, e ele deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que em qualquer coisa, sejam contrários à sua palavra ou que, em matéria de fé ou de culto estejam fora dela."[12] Quando vamos louvar a Deus, temos um direito divinamente dado (um santo dever) de adorá-lo com uma consciência clara. Mas a fim de termos uma clara consciência, à medida que O louvamos, precisamos estar certos de que o que estamos fazendo tem Sua aprovação. Mas como podemos ter certeza de que o que estamos fazendo no culto tem o Seu aval? A resposta, creio eu, é que o próprio Senhor deve nos instruir conforme Ele nos fala nas Escrituras. Assim, segue-se que ninguém tem o direito de nos impor qualquer coisa como algo que devemos fazer no culto — seja doutrina, seja prática —, a menos que seja autorizado pelo próprio Senhor Jesus, segundo a autorização revelada no testemunho dos Apóstolos. E o fato é que muitas coisas têm gradualmente encontrado aceitação nas Igrejas Reformadas, aos quais lhes faltam clara sanção divina.


Na primeira carta de Paulo aos Coríntios, ele faz uma afirmação maravilhosa. Ele diz ser o arquiteto (arkhitektōn) do Templo final de Deus.


Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo. Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co 3.10-16).


Portanto a Igreja Cristã é o Templo final, e o plano para a construção desse tempo foi revelado a Paulo, o Apóstolo. Dizer que Paulo ensinou todo o conselho de Deus é a mesma coisa que dizer que ele ensinou tudo que o nosso Senhor ordenou. Portanto, qualquer um que queira tomar parte na construção do Templo final — com a aprovação de Deus — terá que construir sobre a fundação apostólica, seguindo as instruções do arquiteto. E em nenhum lugar isso é mais importante do que na prática de culto.


Quando nos reunimos no Dia do Senhor — onde quer que seja —, devemos estar cientes de que também estamos assentados nos lugares celestiais (Ef 2.6). Quando adoramos a Deus "em espírito e em verdade" (Jo 4.24), nós chegamos "ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos" (Hb 12.22). Mulheres devem estar em silêncio durante o culto  — não por causa de algum capricho preconceituoso do Apóstolo, mas porque o verdadeiro culto acontece na presença dos anjos (1Co 11.10). Faço menção disso para iluminar o significado das palavras do nosso Senhor à mulher samaritana (João 4). Adorar a Deus em Espírito — o que quer que isso possa significar  — certamente significa isso: nós, pela operação do Espírito Santo, somos capacitados a ascender aos lugares celestiais na mente e no coração. Louvamos em Verdade, porque não é mais meras representações simbólicas das coisas celestiais com as quais temos que fazer  — como foi o caso do culto do Tabernáculo e do Templo. Não, agora nós temos a realidade (Verdade). O contraste, em outras palavras, entre o verdadeiro culto que foi e o verdadeiro culto que agora é  — o contraste entre o culto do Velho e o do Novo Testamento  — é resumido nesses dois termos. Agora a "realidade" (Verdade)  — o qual o antigo simbolizava  — é na verdade nosso em Cristo Jesus por meio do Espírito. Como foi difícil para os primeiros judeus cristãos (mesmo os próprios apóstolos) deixar as representações de sombras. Um dos impedimentos ao bem-estar da igreja que o apóstolo Paulo teve que lidar, repetidamente, foi precisamente em relação a esse problema (Gl 4, Rm 14, Cl 2, etc.). E esse mesmo impedimento ainda persiste entre nós, [pois] ainda hoje são muitos os cristãos que se agarram a esse simbolismo de sombras, visível, que caracterizou o Tabernáculo e o Templo, preferindo os "fracos e pobres elementos" do que louvar em Espírito e em Verdade.


2. O PRC conforme entendido e aplicado por Calvino


Foi Calvino — mais do que qualquer outro reformador — que penetrou no coração dessa matéria. Ele não apenas viu o problema claramente, mas também percebeu sua suprema importância, "Eu sei o quão difícil é", disse Calvino, "persuadir o mundo de que Deus desaprova todos os modos de culto que não foram expressamente sancionados pela Sua Palavra. A persuasão oposta que eles se apegam — estando sentados, por assim dizer, em seus próprios ossos e medula — é, que o que quer que eles façam tem em si mesmo sanção suficiente, desde que exiba algum tipo de zelo pela honra de Deus. Mas desde que Deus não apenas considera isso infrutífero, como também abomina completamente, o que quer que empreendamos do zelo do Seu culto, se está em desacordo com Sua ordem, o que ganhamos [estando] no caminho contrário? As palavras de Deus são claras e notáveis: 'obedecer é melhor que sacrificar', e 'em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.'" (1Sm 15.22, Mt 15.9 [itálicos do autor]).


Para Calvino, o único remédio para a profunda corrupção da igreja Romana foi o retorno aos preceitos e práticas apostólicas.[13] Ele viu na igreja apostólica o modelo para a verdadeira igreja em toda a sua história subsequente.[14] E para Calvino isso foi supremamente importante? "Se for inquirido, portanto, por quais coisas a religião Cristã tem a sua existência sustentada entre nós, e mantêm a sua verdade, se descobrirá duas coisas que não apenas têm a primazia, mas compreendem sob tais todas as outras partes, e, consequentemente, toda a substância do Cristianismo, a saber, o conhecimento, primeiro, do modo pelo qual Deus deve ser devidamente louvado, e, em segundo lugar, da fonte pelo qual a salvação deve ser obtida. Quando tais não são mantidos em vista, embora possamos nos gloriar do nome de Cristãos, nossa profissão é vazia e vã..." (p. 126, ênfases minhas). É comumente dito que a justificação pela fé foi a preocupação suprema dos grandes Reformadores![15] Mas não foi esse o caso, ao menos não com Calvino. Para ele, a glória de Deus foi o interesse supremo, e só depois vem o bem-estar dos pecadores. Daí a prioridade que ele deu ao modo pelo qual Deus deve ser adorado — uma prioridade totalmente mantida em praticamente todos os Catecismos e Confissões Reformadas.[16]


Falho em ver como podemos honestamente receber as Escrituras como a única regra infalível da nossa fé e prática, se não adotamos fielmente esse modelo. Pois é somente aqui — nos escritos dos apóstolos inspirados e nas práticas das igrejas apostólicas revelados nesses escritos — que nós aprendemos o que Jesus ordenou.


3. O PRC conforme aplicado pelas Igrejas Reformadas e Presbiterianas


As igrejas Presbiterianas e Reformadas, hoje, precisam ganhar novamente um entendimento do zelo de Calvino pelo modelo da igreja apostólica. Também necessitam apreciar a profunda bênção que o PRC foi na nossa história passada.[17] O impacto dessa consistente linha de ensino [dada] pelos reformadores calvinistas foi enorme. Isso porque — por um período de tempo considerável — o culto que foi encontrado em todos os lugares, nas Igrejas Presbiterianas e Reformadas, foi marcado por uma pura simplicidade.[18] A palavra de Deus, especialmente a pregação da palavra de Deus, foi central. E enquanto essas igrejas foram abençoadas com uma pregação fiel da Palavra, o povo não sentiu a necessidade de todos os tipos de adições. Naqueles dias, um crente reformado poderia se sentir em casa em qualquer igreja presbiteriana e reformada, qualquer uma no mundo. Mesmo se visitasse um país estrangeiro, onde essas congregações estavam situadas, encontrariam o mesmo hinário que eles tinham em casa, pois eles cantavam — se não, exclusivamente, ou melhor, em sua maioria esmagadora — os Salmos.[19] Eles também encontravam os mesmos elementos simples nos serviços de culto — os mesmos sacramentos, administrados com simplicidade sem adornos — e ainda a mesma liturgia básica.[20]


Nesta seção do meu artigo, quero ilustrar quão importante o PRC originalmente foi para as igrejas presbiterianas e reformadas, me referindo à forma no qual foi aplicado. Me refiro a duas coisas em particular, a saber, a rejeição dos tradicionais dias santos da Igreja Católica e à preeminência do Saltério.


O PRC e os Dias Santos

Sob a orientação autoritativa dos apóstolos, houve uma coisa que a igreja apostólica não praticou, que foi a observância anual dos dias santos como o Natal e a Sexta-Feira Santa (ou ainda a especialmente designada Páscoa). Haveria uma necessidade por um Natal anual, por exemplo, se o próprio Senhor tivesse sido o primeiro a comemorá-lo. E Ele poderia ter provido o que era necessário para torná-lo autêntico. Ele poderia, por exemplo, ter tornado conhecido a data de seu nascimento. E poderia ter ordenado os apóstolos a ensinarem a observância de tais dias na Igreja Cristã desde o começo. Mas Ele não fez. Que a observância desses dias não foi parte de "todo o conselho de Deus" transmitido aos apóstolos é muito claro no Novo Testamento. Não há registro de qualquer tipo de reconhecimento específico  — ou observância — de qualquer desses dias em qualquer de seus escritos. E evidência de que o apóstolo Paulo se opôs à imposição dos dias santos, em adição ao Dia do Senhor, sobre o povo de Deus. Penso que Calvino está correto em dizer que os dias que começaram a ser observados na Galácia (Gl 4.10ss) foram derivados da tradição judaica. E, se estiver correto, creio que esse reformador estava certo quando disse que isso teve algo importante (weighty) a nos ensinar. É assim, pois ao menos alguns desses dias derivados da tradição judaica foram dias que Deus uma vez ordenou. O Apóstolo ainda vigorosamente se opôs à imposição desses dias nas igrejas (assim como ele se opôs à imposição da circuncisão). Como pode, argumenta Calvino, que dias que nunca foram ordenados por Deus sejam impostos às igrejas?


A resposta que muitos dão é que as igrejas reformadas não impõem esses dias, eles simplesmente os observam “livremente”. Mas não vejo que esse argumento convence. Paulo disse — em Romanos 14 — que cada cristão individualmente, nas igrejas apostólicas, eram livres para decidir por si mesmos, se eles observariam esses dias santos do Antigo Testamento ou não.


Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. (Rm 14.4-6).


Em outras palavras, um cristão não estava obrigado a observar esses dias, assim como não estava obrigado a se circuncidar. A cada indivíduo era deixado agir livremente, fora de sua consciência, sem qualquer tipo de pressão. Essa liberdade individual, todavia, foi comprometida quando — nas igrejas da Galácia — os dias santos foram institucionalizados. Então Paulo se levantou como oposição, quando a igreja estabeleceu a observância dos dias não ordenados por Deus, que se intrometeram na esfera sagrada da consciência.[21] E é minha convicção que muitas igrejas reformadas e presbiterianas — ao menos nos efeitos práticos — fizeram exatamente a mesma coisa que a igreja da Galácia fez. Os membros da igreja estão sob pressão para participar da observância de dias como Natal e a Sexta-Feira Santa, mesmo que seja admitido que Deus nunca instituiu tais observâncias. E, posso ainda adicionar, pastores frequentemente são postos sob uma pressão ainda maior para se conformar a essas observâncias humanamente ordenadas.


Às vezes é dito, mesmo por pessoas que professam aderir às confissões reformadas, que a Igreja tem o direito de prescrever tais ordenanças.[22] Mas eu não consigo conciliar isso com o ensino do Novo Testamento (ou com as Confissões Reformadas). O apóstolo Paulo ainda me adverte de que devo me guardar dos anjos do céu, se o ensino deles difere da dos apóstolos (Gl 1.6-9). Ele diz que somos livres — livres das doutrinas e mandamentos  dos homens —, e que devemos estar “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou” (Gl 5.1). “Se, pois” escreve o Apóstolo, “estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças […] segundo os preceitos e doutrinas dos homens” (Cl 2.20,22). As pessoas costumam me falar que esses dias (isto é, dias especiais anuais oficialmente designados, tais como o Natal, Sexta-Feira Santa e a Páscoa) são completamente inofensivos — ou até mesmo benéficos. E eu não discutirei o fato de que, para muitos, tais coisas “têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria [...] senão para a satisfação da carne” (Cl 2.23). Mas o importante é isso: os apóstolos inspirados dizem que essas coisas (inventadas e impostas pelo homem) “não são de valor algum…”, e o fato de que muitas pessoas pensam que são de grande valor, simplesmente deixa evidente o perigo, conforme vejo, do qual o apóstolo nos avisou.


Se os apóstolos nos deram todo o conselho de Deus — tanto em matéria de fé, quanto de prática —, então não consigo ver como a igreja hoje pode arrogar o direito de legislar tais observâncias anuais para o povo de Deus, enquanto que esse poder[23] foi negado aos próprios apóstolos. O poder legítimo da Igreja é apenas ministerial e declarativo. A Igreja não tem qualquer autoridade para fazer novas leis para o povo de Deus. O poder para produzir leis para o seu povo é reservado ao Senhor Jesus somente. A Igreja, a noiva de Cristo, tem apenas autoridade — como noiva fiel — para verificar se os seus filhos estão sendo ensinados nas leis do seu esposo. E se os apóstolos e seus companheiros realmente depositaram a porção final de todo o conselho de Deus para nós em seus escritos inspirados, não há necessidade, nem autorização, para qualquer tipo de nova legislação.


É frequentemente dito hoje que o PRC foi uma invenção puritana, alheio à tradição reformada continental. Mas é de se surpreender que esses que promovem essa ideia, aparentemente nunca se preocuparam em investigar os registros históricos.[24] A verdade é que os Reformadores continentais foram — no século XVI — tão “puritanos” quanto os próprios puritanos. Há um mundo de diferenças entre os fatos históricos atuais[25] e as falsas representações da posição reformada continental que são frequentemente ouvidas hoje. O PRC não pode ser considerado como algo pertencente apenas aos descendentes americanos das igrejas reformadas continentais, mas certamente pertenceu também aos seus pais.


PRC e a Salmodia


Estive presente na Assembleia Geral da nossa Igreja em 1956, quando a primeira edição do Trinity Hymnal foi finalizado. Também assinei[26] um protesto contra a ação da Assembleia em “dar aprovação a outros hinos além daqueles derivados das próprias Escrituras" e “[devendo] aprovar nenhum outro além da seleção limitada das versões métricas dos Salmos.”[27] Nessa Assembleia, ouvi um número de discursos eloquentes estabelecendo os argumentos mais persuasivos e retumbantes em favor de vastas mudanças que tomaram lugar nos hinários de muitas igrejas presbiterianas e reformadas. O argumento foi que uma nova era de revelação redentiva gera um derramar de canções de louvor. Portanto, conforme o argumento prossegue, o mais importante período de novas revelações redentivas — a era apostólica — demandou um afloramento de novas canções. Me lembro bem que essa ideia soou muito convincente quando a ouvi pela primeira vez. O único problema é que quando refleti sobre isso mais cuidadosamente, além de ter feito algumas pesquisas históricas, descobri que não é convincente.


Vamos supor por um momento que o livro dos Salmos do Velho Testamento não foi adequado como instrumento de louvor para a igreja do Novo Testamento. Não é auto-evidente que, se esse fosse o caso, o primeiro a perceber seria o nosso Senhor? O Nosso Senhor percebeu que houve necessidade de um novo sacramento, isso é o porquê Dele ter instituído o sacramento do Seu corpo e sangue que chamamos de Ceia do Senhor. Ainda nessa mesma ocasião, Ele levou seus discípulos a cantarem um salmo do Saltério, e, de acordo com todas as evidências que tenho visto, o apóstolo Paulo seguiu o exemplo do Senhor. Ele mesmo não escreveu novos hinos, o que ele fez foi instruir tanto os efésios, quanto os colossenses a cantarem os salmos pneumáticos,[28] hinos e canções que eles já tinham — algo poderiam fazer facilmente, pois já tinham o Saltério em sua versão Septuaginta da Bíblia. Os apóstolos foram homens inspirados, se houvesse uma deficiência no livro dos Salmos, que eles herdaram das Escrituras do velho testamento, é certo que teriam sido rápidos em perceber.[29] E, percebendo, certamente poderiam ter feito algo para remediar. Poderiam ter nos dado um livro de canções inspiradas neotestamentárias. Mas eles não fizeram. Então o argumento de que uma nova era de revelação redentiva sempre gera novos hinos de louvor é simplesmente contrário aos fatos históricos.


Na minha busca por material histórico, fui incapaz de encontrar algo do tipo no tempo dos Apóstolos, ou no século que se seguiu. Pode, de fato, ser alegado que havia tais composições — ainda muitos deles — mas que, por alguma razão, não foram dignos de serem preservados. Pode também ser alegado que temos pequenos fragmentos dessas composições espalhadas por todo o Novo Testamento. O fato é, todavia, que não há prova dessas coisas. Conforme apontou o Dr. R. Dean Anderson:


É muito comum nesses dias que os especialistas do Novo Testamento falem sobre “hinos” encontrados nas cartas de Paulo. Das várias porções dessas cartas, que foram destacadas para essa “honra”, nenhuma causou mais discussão do que Fp 2.6-11.


Não há evidência que prove que essa passagem foi um hino ou foi cantada, deixemos-a à parte na adoração pública. Afirmações desse tipo são sempre suposições, simplesmente não há como prová-las. O que é argumentado a respeito dessa passagem, é que representa algum tipo de arranjo poético deliberado. Há, então, uma questão mais complexa a respeito sobre se é um pedaço de poesia do qual Paulo é o próprio autor ou se é apenas uma citação. Finalmente, a suposição que é feita de que esse pedaço de poesia foi um hino usado na adoração.


Teorias abundam, mas as soluções estão longe e são poucas. Nossa passagem não é exceção, Martin nota a respeito de Fp 2.6-11: “De todas as tentativas de análise literária que tem sido feitas, nenhuma há que tenha uma concordância geral”[30]


A fraqueza desse argumento pode ser visto no fato de que não há indicações de que qualquer uma dessas passagens, tomadas isoladamente, sejam hinos nas cartas do Novo Testamento, e que ainda foram usadas como canções pela igreja primitiva. Se hinos existiram no período apostólico, e, especialmente, se os próprios apóstolos os citaram, então certamente teriam sido preservados pela igreja primitiva ou ao menos teriam sido mencionadas![31]


Penso que já está na hora de parte dos especialistas do Novo Testamento terem um nível maior de honestidade. É hora deles admitirem  que meras suposições não equivalem a provas, e que apenas dizer “muitos especialistas concordam” não estabelece nada.[32] Se o PRC histórico significa algo, significa que tudo que é parte do culto público de Deus requer uma sanção clara e certa das Escrituras. É também minha convicção de que o PRC é, na verdade, o ensino das Escrituras. É também minha convicção de que algo grande — se não, o maior — que a igreja hoje precisa é um retorno honesto a esse princípio.[33]


4. O PRC conforme redefinido hoje


À medida que olhamos para o constituinte da herança reformada e presbiteriana hoje, uma coisa é muito clara: em muitas dessas igrejas, a antiga simplicidade do culto reformado foi substituído por todo tipo de inovação[34]. Não pode mais ser dito que temos o mesmo hinário. Em muitas dessas igrejas, o canto dos cento e cinquenta salmos inspirados foi eclipsado pelo canto de centenas de hinos não inspirados, e os teólogos das igrejas presbiterianas e reformadas — mesmo as denominações mais conservadoras e ortodoxas — me parecem ter um conceito muito diferente do PRC em relação a dos nossos pais presbiterianos e reformados. Ou não entendo o que muitos dos nossos teólogos atuais estão dizendo, ou eles atualmente estão engajados em um processo de redefinir o PRC. Quão elástico o PRC tem se tornado em suas mãos, de forma que tem carregado pouca semelhança com aquele dos reformadores calvinistas, ou da forma com que esse princípio foi entendido pelas primeiras gerações das igrejas reformadas e presbiterianas. Como o Dr. T. David Gordon pontuou: “Na situação presente, parece que muito pouco dos amigos ou inimigos do princípio regulador o entendem conforme foi tradicionalmente entendido.”[35] Um diz que não encontra uma “ordem” na Bíblia para que tenha sermão no culto[36], outro diz que o histórico princípio regulador do culto é nada mais que uma invenção humana[37], embora — ironicamente — faça a seguinte observação surpreendente:


Alguém que se diz crer no Princípio Regulador do Culto, crê em uma versão elástica, de forma que o torna irreconhecível como Princípio Regulador do Culto para qualquer observador honesto […] Não levaríamos a sério um homem que tenta nos convencer de que uma vaca é um animal com duas pernas, penas e guelras, ele está descrevendo qualquer coisa, menos uma vaca. Da mesma maneira, os verdadeiros regulativistas[38] são aqueles que, ao menos, tentam aplicar um princípio discreto — se não é ordenado, é proibido —, mesmo se suas tentativas incluam melhorias. A questão é que eles têm esse princípio sob uma forma que o faz com que seja irreconhecível com o princípio historicamente recebido.[39]


Embora me arrependa de citar essa rejeição do PRC desse autor, tenho que concordar com sua observação. O que estamos enfrentando na tradição reformada hoje é verdadeiramente uma demolição do PRC por meio da redefinição[40].

5. Algumas Sugestões Modestas

(1) Conforme vejo, a necessidade hoje é precisamente o que o Dr. T. David Gordon [nos] pede: “Se deve haver uma discussão inteligente, frutífera e final a respeito do entendimento reformado do culto, tal discussão deve ter respeito suficiente pela tradição reformada para engajar expressões públicas significantes dessa tradição.”[41] Como cristãos reformados, ainda confessamos que as Escrituras devem ser a única regra de nossa fé e prática.[42] Também professamos que o seu ensino é suficiente,[43] e que, assim, estamos livres de todas as doutrinas e mandamentos do homem na esfera do culto — não apenas aqueles que são contrários à palavra de Deus, mas também os que vão além.[44] Mas hoje, em muitas igrejas presbiterianas e reformadas, a tensão entre a profissão histórica (“apenas o que Deus ordenou”) e a prática atual (com muitas coisas que Deus não ordenou) está alcançando um ponto de ruptura.


(2) Creio que essa tensão é a verdadeira razão para a profunda falta de unidade que encontramos hoje nas coisas que temos escrito a respeito da teoria e da prática de culto.[45]


(3) As igrejas reformadas e presbiterianas estão diante de dois caminhos, e devem ir [ou] para um ou para outro — e nenhuma escolha parece ser fácil ou agradável. Se continuarmos a acomodar mais e mais práticas que claramente contradizem — ou, ao menos, forçam o ponto de ruptura — a construção histórica do PRC, então devemos ir com aqueles que querem demolir o PRC por meio da redefinição, ou nos juntamos com aqueles que declararam ter se libertado do PRC; e desde que o resultado final será praticamente idêntico, trato-os como uma única opção. A outra alternativa é começar o dificultoso trabalho de lançar fora as práticas que contradizem a nossa confissão; isso nunca foi fácil, não foi fácil nos tempos de Calvino, e não será no nosso, mas essa opção tem uma vantagem notável: é a coisa certa a se fazer, e fazer o certo tem o condão de produzir ricos benefícios a longo prazo.


(4) Assim, desejo incitar-nos a simplesmente fazermos um esforço mais acordado para vivermos de acordo com a nossa profissão. O PRC não é algo peculiar a alguns de nós na ICRC,[46] é a nossa herança comum, e, ao menos, há alguns sinais encorajadores de que uma mudança para melhor pode estar chegando.


Tive a oportunidade de estudar o PRC quando servia como pastor na Reformed Churches of New Zealand. Durante esse tempo, estava privilegiado em servir no comitê que revisou a Ordem da Igreja (Church Order),[47] a fim de parar a imposição da celebração dos dias santos, outros além do Dia do Senhor, sobre o povo de Deus.[48] Tenho também notado que a Canadian Reformed Churches tem feito uma modificação similar, deixando as suas igrejas livres para decidirem por si mesmos, sobre a maneira e o tempo em que eles “comemoram o nascimento, morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus, bem como o Seu derramamento do Espírito Santo.”[49]  Algo similar —  embora não esteja tão claramente formulado — é encontrado na Ordem da Igreja da recente United Reformed Churches of North America. O que uma vez foi requerido (na Christian Reformed Church), é agora simplesmente permitido (na URCNA). Essas igrejas podem escolher comemorar esses grandes eventos redentivos nos dias tradicionais — embora não demore muito em dizer que eles devem.[50]


Quero expressar minha admiração por essas melhorias. Antes da secessão recente de muitas congregações da Christian Reformed Church, me senti constrangido, por causa da necessidade, a pastorear — mesmo aposentado — um pequeno grupo de pessoas no nordeste de Iowa, como uma Orthodox Presbyterian Church. Algumas das pessoas que se tornaram parte dessa congregação pertenciam à Christian Reformed Church, mas não podiam mais continuar com uma consciência clara. Uma das coisas que essas pessoas admiraram em nossa pequena congregação foi uma liberdade completa da imposição das coisas não instituídas pelo nosso Senhor — coisas tais como a Sexta-Feira Santa e o Natal. E, então, quando a secessão de igrejas em nossa área emergiu, essa liberdade era motivo de preocupação para nós, apesar de vermos nisso um dever bíblico de buscar uma unidade com os que se separaram. Estou feliz em dizer que fomos calorosamente recebidos, e recebidos com a certeza de que permaneceremos livres da obrigação de observar esses dias humanamente criados, embora tenha ficado claro que eles continuariam a oferecer cultos de adoração nesses dias para aqueles que desejassem continuar a realizá-los.


Às vezes é alegado que os aderentes do PRC histórico eram primeiramente interessados em afastar as pessoas de fazer o que quisessem, fazer coisas tais como relembrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro. Gostaria de dizer — como alguém que permanece convicto de que o PRC é o ensino da Bíblia — que não tenho desejo de impedir alguém de relembrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro, se eles quiserem fazer isso. Tudo que eu peço — como um cristão e ministro do evangelho — é que aqueles que querem a liberdade de fazer isso, permitam-me a liberdade de não fazer. Não creio que qualquer indivíduo tem o direito de impor suas preferências sobre mim a respeito de coisas que não foram ordenadas pelo Senhor, e também não creio que qualquer igreja tem o direito de fazer o mesmo,[51] na verdade, é claro aqui que o Apóstolo Paulo desenhou a linha de demarcação (Rm 14:5-6a,13) Aqueles entre nós que não conseguem encontrar garantia na Palavra de Deus para qualquer observância recorrente dos dias além do Dia do Senhor, não devem impor nossa convicção sobre aqueles que querem observar esses dias. Mas o inverso é também verdade, e, em minha experiência, aqueles que querem observar esses dias — precisamente por que a sua visão é a popular — são os que mais frequentemente querem impor sua visão sobre nós que não queremos observar.[52]


(5) Não sou profeta, mas vejo que o dia virá em que a simplicidade do culto, conforme praticado pelos nossos pais reformados, novamente se tornará mais atrativa. Muitos cristãos já têm ficado cansados de todas as mudanças, artifícios e invenções que pessoas sinceras bem-intencionadas têm trazido para “melhorar” o culto. Creio que, em breve, será alcançado um ponto em que o culto histórico da Reforma — adorar em Espírito e em Verdade — será novamente reconhecida como a mais nova novidade, bem como a maior bênção possível.[53] Espero que estejamos lá para darmos uma calorosa  boas-vindas quando esse tempo chegar.


Queira Deus apressar esse dia enviando uma nova Reforma


© Copyright by the Committee on Christian Education of the Orthodox Presbyterian Church. All rights reserved (ISSN: 1525–3503 printed; E-ISSN 1931–7115 online).


*    *    *


NOTAS DE RODAPÉ


[1] N. T.: Publicado na revista Ordained Servant, vol. 10, n° 4 (Outubro de 2001), p. 67-78.


[2] Neste artigo não discutirei a aplicação desse princípio a diferentes tipos de culto, tais como o privado, familiar, informal, formal, etc. Meu foco aqui é o culto público das congregações sob a supervisão dos pastores e presbíteros devidamente ordenados.


[3] The Commentary of Dr. Zacharias Ursinus on the Heidelberg Catechism, Wm. B. Eerdmans Pub. Co. Grand Rapids MI, 1954, p. 517


[4] Ibid. Do mesmo efeito é a resposta da questão 51 do Breve Catecismo de Westminster:“O segundo mandamento proíbe o adorar a Deus por meio de imagens, ou de qualquer outra maneira não prescrita na sua Palavra.” O Catecismo Maior de Westminster explica o que o mandamento proíbe: “todas as invenções supersticiosas, corrompendo oculto de Deus, acrescentando ou tirando dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas por tradição de outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, de devoção, de boa intenção, ou por qualquer outro pretexto [...] e oposição ao culto e ordenanças que Deus instituiu.”


[5] O reverendo Schlissel, que rejeita o PRC como uma mera invenção humana, não obstante, escreve: "O locus classicus, a citação textual mais frequente e importante para o Princípio Regulador do Culto é Deuteronômio 12.32 'Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.' Mas aqui, de novo, os regulativistas [Nome que o reverendo Schissel dá àqueles que crêem no PRC] ou ignoram ou negligenciam o contexto. Isolando esse verso em particular do seu contexto, sua beleza é estragada, sua força é neutralizada e seu poder é comprometido.


Deuteronômio 12.32 aparece em um contexto marcado pela sua época: temos um passo maior no progresso da religião do pacto. Antes disso, os pactuantes poderiam oferecer sacrifícios onde quer que eles quisessem. De agora em diante, os sacrifícios seriam severamente restritos. Seriam restritos, conforme foi dito, a respeito do local, das pessoas e de suas particularidades.


É aqui, em Deuteronômio 12, que realmente encontramos introduzido o que podemos chamar apropriadamente de Princípio Regulador do Culto: Se é ordenado, você deve fazer, se não é ordenado, é proibido (vide versículo 32). Não olhe para os pagãos, qualquer um. Eles só fazem loucuras que eu abomino (versículos 28-31). Quanto a você, faça o que eu digo, e apenas o que eu digo" [itálicos do autor].


[6] N. T.: no original "Even those who want to modify — or entirely eliminate — the RPW are willing to concede as much."


[7] O pastor Peter Wallace, da Orthodox Presbyterian Church, diz que os santos do Velho Testamento não poderiam oferecer um culto agradável a Deus em suas sinagogas, pois o culto só poderia ter lugar no templo. Isso claramente precisa de uma qualificação. É claro que não poderia haver um verdadeiro culto, exceto em conexão com, e na dependência do, que estava constantemente ocorrendo no templo. Mas [também] seria espiritualmente possível se um crente estivesse a 40 pés [12 metros] ou 40 milhas [64,37 quilômetros] do templo (vide Salmo 5.7, Daniel 6.10, etc.).


[8] Recomendo ao meu leitor a minha revisão mais extensa das evidências no Antigo Testamento em favor do Princípio Regulador <http://homepage2.rconn-ect.com/giwopc/> (N. T.: infelizmente o link está quebrado, atualizarei aqui quando eu achar o link certo)


[9] N. T.: todas as passagens bíblicas neste texto estão na versão Almeida Corrigida e Fiel.


[10] Isso é, de fato, muito seletivo. Creio, por exemplo, que a doutrina da depravação total — corretamente entendido — impede [alguém] de inventar alguma coisa, ou acrescentar ou melhorar o que Deus ordenou no culto.


[11] Confissão de Fé de Westminster, XXXI, 3.


[12] Confissão de Fé de Westminster, XX, 2 (ênfase meu).


[13] Isso é claramente visto em sua carta ao Cardeal Sadolet! "Eu não te pressionarei tão severamente para voltar àquela forma que os apóstolos instituíram (embora tenhamos nele apenas um único modelo de Igreja verdadeira, e quem quer que se desvie desse modelo, mesmo que seja pouco, está em erro), mas para te satisfazer até aqui, eu ponho, diante dos teus olhos, essa antiga forma da Igreja, tal como os seus escritos provam ter sido nos tempos de Cristóstomo e Basil, entre os gregos, e de Cipriano, Ambrósio e Agostinho, entre os latinos; [e que] depois de assim feito, te peço, contemple as ruínas daquela Igreja que agora sobrevive entre nós. Certamente, a diferença aparecerá tão grande quanto aquela que os Profetas descreveram entre a famosa Igreja que floresceu sob Davi e Salomão, e aquela sob Zedequias e Jeoaquim, que caiu em todo tipo de superstição e corrompeu totalmente a pureza do louvor divino." (N. T.: a expressão "te peço" (I pray), não está nessa posição no original, mas bem antes; todavia, para que a compreensão não seja afetada, e como o tradutor entende que Calvino fez esse rogo para que o cardeal contemplasse as ruínas da igreja, troquei a expressão de lugar.)


[14] Sobre Calvino e a prática apostólica, ver também Charles Garside, The Origins of Calvin’s Theology of Music: 1536-1543, Transactions of the American Philosophical Society, vol. 69, pt. 4 (Philadelphia, 1979), p. 10, onde ele comenta que, nos Artigos de 1537, Calvino apela à prática da igreja apostólica. "Os Artigos deixam claro que, em adição à conformidade com a palavra de Deus, Calvino pretendeu reconstruir, o quanto foi possível, o culto conforme a disciplina na igreja antiga, e nessa igreja, como São Paulo testificou, os salmos eram cantados. Tal canto [de salmos], portanto, foi completamente tão íntegro à grande visão de Calvino da vida da antiga igreja, quanto foi 'essa antiga, isto é, apostólica, disciplina da excomunhão'. Salmodia foi uma prática apostólica, um fato de profunda importância para Calvino, sublinhado pela sua referência à degeneração da música litúrgica contemporânea."


[15] Talvez isso possa ser dito, com mais propriedade, de Lutero.


[16] Vide Apêndice A (N.T.: Não há tal apêndice no texto original do pdf, talvez esteja da publicação impressa).


[17] Até mesmo o Rev. Steve Schlissel — que diz que o PRC é uma mera invenção humana — admite (bastante efusivo) que foi uma tremenda bênção na nossa história. Alguém se admira de como uma mera invenção humana poderia ter sido tão notavelmente abençoada pelo Senhor, como o Rev. Schissel admite que foi.


[18] "Calvino construiu sua forma de culto sobre a fundação de Zuínglio e Farel, além dos serviços que já estavam em uso nas Igrejas Reformadas Suíças. Assim como seus predecessores, ele não se simpatizou com qualquer cerimonialismo da Igreja Romana, os quais foram sobrecarregados com tradições e superstições não-bíblicas. Podemos adicionar [também] que ele não tinha gosto por traços artísticos, simbólicos e ornamentais no culto. Ele rejeitou tudo, todos os sacramentos, exceto dois; os dias santos, quase todas as festas religiosas, exceto o Domingo; imagens; relíquias; procissões, e toda a pompa e circunstância de um culto espalhafatoso que apela aos sentidos e à imaginação ao invés do intelecto e à consciência, e tende a distrair a mente com um espetáculo exterior ao invés de concentrá-lo na contemplação da verdade salvadora do evangelho.


Ele substituiu em seu lugar esse modo simples e espiritual de culto, o qual é bem adaptado para uma devoção inteligente, se for animado pela presença e poder intenso (quickening) do Espírito de Deus, mas se torna estéril e frio, se esse poder for retido (waiting). Ele fez do sermão a parte central do culto, e substituiu a liturgia em língua latina pela instrução e edificação na língua vernacular. Ele magnificou o púlpito, como o trono do pregador, acima do altar do sacerdote sacrificador. Ele abriu a fonte incansável da oração livre no culto público, com suas infinitas possibilidades de aplicação às várias circunstâncias e desejos; ele restaurou à Igreja, como Lutero, a bênção inestimável do canto congregacional, o qual é a verdadeira liturgia popular e mais efetivo do que a leitura de formas escritas de oração." (History of the Christian Church, por Philip Schaaf, ¶87, the Liturgy of Calvin).


[19] "A Igreja Católica Romana gradualmente substituiu o saltério pelos hinos em latim, muitos dos quais o povo não podia entender. Depois de se separar da Igreja Católica Romana, as igrejas reformadas na Europa produziram versões metrificadas dos Salmos no vernáculo, o quais foram usados como seu livro de oração no culto público de Deus. Seja na Suíça, França, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, ou nas Ilhas Britânicas, o povo das igrejas reformadas amavam e cantavam os salmos em sua própria língua. Por exemplo, em 1574, o sínodo das igrejas reformadas das terras baixas (Holanda, Bélgica e partes da Alemanha) ordenou que todas as igrejas cantassem apenas o livro dos Salmos de Datheen, que tinha apenas os salmos. Os huguenotes da França eram conhecidos por seu amor pelo Saltério Genebrino produzido por Bela e Marot. Eles cantavam os salmos tanto no culto público, quanto na vida diária." Archibald A. Allison, The Content of Songs Used in Public Worship, p. 1.


[20] "É fato bem conhecido para os historiadores da Igreja que quando uma vida espiritual começa a decair, observâncias formalistas e extraordinárias começam a crescer [...] Aquele que serve a Deus em Espírito e com devoção terá pouca necessidade por inovações incomuns e constantes." Idzerd van Dellen e Martin Monsma, The Church Order Commentary, Zondervan Pub. Co., 1954, 3 ed., p. 275.


[21] Confissão de Fé de Westminster, XX, 2.


[22] O artigo 34 [N. T.: Dos 39 Artigos da Religião] da Igreja da Inglaterra (adotado em 1562) expressa o que muitos reformados hoje parecem crer: “Toda a Igreja particular ou nacional tem autoridade, para ordenar, mudar e abolir as Cerimônias ou Ritos da Igreja, instituídos unicamente pela autoridade humana, contanto que tudo se faça para edificação.” A Assembleia de Westminster (1643-1648) corrigiu esse desvio, dizendo: “...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.” (XXI, 1). E “Só Deus é senhor da consciência, e ele deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que em qualquer coisa, sejam contrários à sua palavra ou que, em matéria de fé ou de culto estejam fora dela.” (XX, 2).


[23] Com isso eu quero dizer “autoridade para inovar, inventar e impor" sobre o povo de Deus coisas que nunca foram ordenadas pelo Senhor.


[24]  O Teólogo Robert L. Reymond reconheceu essa falsa representação como se segue: “J. I. Packer rejeitou o princípio regulador sobre o fundamento de que é uma ‘inovação puritana’ (The Puritan Approach to Worship, Diversity in Unity [artigo escrito no Puritan and Reformed Studies Conference, dezembro de 1963; disponível em Londres: The Evangelical Magazine, 1964], 4-5), o que quer que possa ser dito sobre esse princípio", diz o Dr. Reymond “deve ser dito que não é uma inovação puritana…” do mesmo teor foi o comentário do Dr. Edmond Clowney em um ensaio intitulado Distinctive Emphases in Presbyterian Church Polity, no volume comemorativo do quinquagésimo aniversário da fundação da Orthodox Presbyterian Church intitulado Pressing Toward the Mark, p. 102. “O princípio regulador não é um princípio distintivo dos [reformados] ingleses contra a liderança reformada continental. É claramente afirmado no artigo 32 da Confissão Belga (1561).” (N. T.: O artigo 32 da Confissão Belga diz o seguinte: “Cremos que os que governam a igreja devem cuidar para não se desviarem do que Cristo, nosso único Mestre, nos ordenou; embora seja útil e bom que, entre eles, se estabeleça e conserve determinada ordem para manter o corpo da igreja. Por isso, rejeitamos todas as invenções humanas e todas as leis que se queiram introduzir para servir a Deus, mas que venham, de qualquer maneira, comprometer e constranger a consciência. Aceitamos, então, somente o que serve para promover e guardar a concórdia e a unidade e para manter tudo na obediência a Deus. Esta ordem (caso desobedecida exige a excomunhão), feita conforme a Palavra de Deus, com todas as suas conseqüências.” Disponível em <http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_belga.htm> Acesso em 26/07/2021.)


[25] Meus agradecimentos ao Dr, R, Dean Anderson pelo material traduzido que se segue nas citações abaixo (ênfases meus):


O primeiro sínodo das igrejas reformadas dos Países Baixos a lidar com esse assunto foi a de Dordecht em 1574. No dia 18 de junho, os delegados decidiram:


“A respeito dos dias santos em adição ao Domingo: foi decidido nos contentarmos apenas com o Domingo. Não obstante, o material relacionado ao nascimento de Cristo deve ser tratado no Domingo antes do Natal com uma admoestação para que o povo não observe o Natal. Se o Natal cair no Domingo, o mesmo material deverá ser pregado nesse dia. É também permitido pregar sobre a ressurreição e o derramamento do Espírito Santo no Domingo de Páscoa e de Pentecostes, e isso à liberdade dos ministros.”


No Sínodo de Roterdã, no ano seguinte, uma decisão similar foi feita:


“Em relação aos dias santos: Será pedido ao governo que permita a todos trabalharem nos seis dias da semana de acordo com o quarto mandamento do nosso Senhor. E se o governo ordenar qualquer outro (dia santo) além do Domingo, os ministros delegados pedirão ao parlamento que informe-lhes, de tal maneira que esses ministros possam ponderar sobre quanto e quão longe alguém pode ir, a fim de que, por um lado, o povo não caia em superstição, conforme Paulo avisa em Gálatas 4, e, por outro lado, que o povo não conduza uma luta feroz contra o governo supracitado, por causa de certos dias santos.”


A decisão no próximo Sínodo Nacional, em 1578, realizado novamente em Dordecht, conta a história do desapontamento das igrejas nessa matéria.


Foi, na verdade, desejado que a liberdade de Deus para trabalhar seis dias seja permitida na igreja, e que apenas o Domingo seja celebrado. Não obstante, desde que outros dias santos sejam mantidos pela autoridade do governo, a saber, o Natal e o dia posterior, ao contrário do segundo dia da Páscoa, do Pentecostes, do Ano Novo, em alguns lugares, e da Ascensão, os ministros devem fazer o melhor para ensinar à congregação a transformar a ociosidade não-produtiva e perigosa em exercícios santos e rentáveis pelos sermões especialmente voltados para o nascimento e ressurreição de Cristo, para o derramamento do Espírito Santo, e outros artigos de fé. Os ministros das igrejas farão isso nas cidades onde os dias santos são observados, pela autoridade do governo, mais do que o Domingo. Nesse meio tempo, todas as igrejas trabalharão, tanto quanto for possível, e da forma mais apropriada, para abolir a observância de todas as festas santas, exceto o Natal (desde que a Páscoa e o Pentecostes caiam no Domingo).”


Esses fatos se tornam mais claros dos escritos de um notável teólogo holandês chamado Gisbert Voetius (1589-1676). Ele foi um dos delegados do famoso Sínodo de Dort, e uma autoridade em matéria de governo eclesiástico. Em seu De Sabbatho et Festis — indo para o fim do segundo apêndice desse tratado — ele discute a variada natureza dos artigos contidos na ordem da igreja. Nessa discussão, ele distingue entre (1) os artigos que são mandamentos prescritivos às igrejas, e (2) aqueles que são “parcialmente permissivos, ou concessivos, ou tolerantes; parcialmente limitantes, de modo que se uma prática particular deve existir, ao menos será essa e nada mais.” do último [artigo] — o qual lida com dias como a Sexta-Feira Santa e o Natal —, ele escreve:


Tais artigos não são impulsos característicos, ou intrínsecos, ou voluntários, procedentes do coração da igreja; mas ocasionais, extrínsecos (assim como o eclipse é um fenômeno característico da lua), impostos de fora, pesados para as igrejas, em e de si mesmos, em um sentido absoluto, indesejáveis. Sínodos foram convocados, compelidos e coagidos a receber, trazer e admitir esses artigos, como uma transação, a fim de prevenir situações piores e discórdias.”


Em outras palavras, a verdade é — conforme diz Voetius — que esses “sínodos não fornecem ou instituem [a observância anual de dias] por verem nisso um caminho melhor ou mais edificante, mas eles instituíram por causa da necessidade e imposição pelo magistrado e pelo povo, depois de todas as tentativas de parar as observâncias, e o decreto do Sínodo de 1574 deixá-los de lado, em um tempo que não foram capazes de ab-rogá-los — um fato que eles admitiram em 1578.


É também digno de nota que no século XIX, as igrejas da secessão (“afscheiding”, 1834) mais uma vez proclamaram a preocupação das igrejas reformadas de antigamente. Em Amsterdã, 1836, prevaleceu o seguinte:


“Nas Santas Escrituras nos é admoestado fortemente a permanecer na liberdade com o qual Cristo nos fez livres, na observância dos mandamentos divinos; assim, devemos na congregação do Dia do Senhor a não compelir as pessoas a observarem os assim chamados dias santos que o Senhor não ordenou na Sua Palavra. O Dia do Senhor foi separado pelo próprio Senhor, e  não podemos e nem devemos adicionar qualquer festa por decreto humano. Os seis dias de trabalho foram dados por Deus para que trabalhemos; as pessoas podem nesses dias ajuntar-se para serem edificados pela Palavra de Deus, providenciando que a consciência do homem não seja amarrado à observância de dias santos fixos e anuais; a consciência deve ser deixada completamente livre nessa matéria.


Os reformadores escoceses foram na mesma linha de pensamento conforme os seus irmãos continentais, e providencialmente foram capacitados a abolir esses dias completamente — um resultado que durou mais de dois séculos (vide The Christian Year In: The Dictionary of Scottish Church History & Theology, publicado por IVP e T. & T. Clark, Ltd. 1993, pp. 170,171).


[26] O professor John Murray e o Dr. William Young também assinaram esse protesto.


[27] Minutes of the 1956 General Assembly of the Orthodox Presbyterian Church, p. 53


[28] N. T.: pneumático quer dizer “inspirado pelo Espírito Santo”


[29]  Muitas das argumentações atuais em favor de hinos não-inspirados é baseado na suposição de que o Saltério é deficiente como um hinário para a igreja na nova aliança. Muito diferente foi a visão de Calvino, que escreveu: “Tenho me acostumado a chamar esse livro, que penso não ser inapriopriado, de ‘Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma’ [...] resumidamente, já que invocar a Deus é o principal meio de assegurar a nossa segurança, e como uma regra excelente e inerrante para guiar-nos nesse exercício não pode ser encontrado em outro lugar além dos Salmos, segue-se que, em proporção à proficiência que o homem deve alcançar para entendê-los, será o seu conhecimento a parte mais importante da doutrina celestial [...] É lendo atentamente essas composições inspiradas, que o homem pode ser mais efetivamente despertado para as suas maldades e, ao mesmo tempo, instruído nos remédios para a sua cura [...] Não há outro livro no qual pode ser encontrado os louvores mais magníficos e expressos, bem como também a liberalidade inigualável de Deus para com sua igreja, além todas as suas obras; não há outro livro no qual há tantos livramentos registrados, nem algum que tenha evidências e experiências da solicitude e providência paternal que Deus exerce para conosco, que sejam celebrados com tal dicção esplendorosa, e ainda com uma aderência estritíssima à verdade; em resumo, não há outro livro no qual somos mais ensinados perfeitamente à maneira correta de louvar a Deus, ou no qual somos poderosamente mais animados a atuar nesse exercício religioso [...] não há aqui qualquer deficiência relacionada ao conhecimento da salvação eterna.” (Calvin’s Preface to his Commentaries on the Psalms, pp. xxxviii & xxxix) “...depois de termos  buscado em todos os lugares, procurando aqui e ali, não encontraremos canções melhores e mais adequadas para o nosso propósito do que nos Salmos de Davi, ditados e feitos por ele por meio do Espírito Santo.” (Opera, Vol. VI, pp. 171-172, ênfases meus).O reformador escocês John Knox ecoa o mesmo sentimento: “...não há canções mais conhecidas do que os Salmos do profeta Davi, os quais o Espírito Santo construiu para o mesmo uso, e recomendado à Igreja como contendo a eficácia de todas as Escrituras, e que, assim, os nosso corações podem ser mais vivdamente tocados…”  (John Knox works, Vol. 4, pp. 164-166, ênfases meus)


[30] Martin, R. P., 1967 Carmen Christi: Philippians 2.5-11 in Recent Interpretation and in the Setting of Early Christian Worship. Society for New Testament Studies Monograph Series. London: U.P., p 36.


[31] Anderson, R. Dean, Prophetic Singing in the Public Worship of the Church. Disponível em <http://www.spindleworks.com/library.htm>. É esse tipo de pesquisa honesta e cuidadosa que está em falta nos dias de hoje.


[32]  Foi o professor J. Gresham Machen que me convenceu, há muito tempo atrás, de que eu deveria rejeitar a tirania dos especialistas.


[33] O Reverendo C. Lee Irons, em sua recente defesa do uso de hinos não inspirados, admite, com uma sinceridade incomum, que 75% dos hinos no Trinity Hymnal não são dignos de serem usados na adoração. Ele também diz que qualquer novo hino precisa imitar os Salmos a fim de serem dignos. Com esse tipo de avaliação honesta que o século passado e a metade [desse] produziu, pode, em breve, vir o tempo em que muitas pessoas admitirão, finalmente, que Calvino desde sempre esteve certo.


[34]  O Dr. Robert L. Reymond faz esse comentário em sua discussão sobre o culto: “...quando alguém entra em qualquer igreja reformada hoje, neste país, no Dia do Senhor, nunca se pode ter certeza se será pedido que adore em uma forma ‘tradicional’ ou ‘contemporânea’, litúrgica ou não litúrgica, formal ou avivado.” ele também diz — corretamente, em minha opinião — que “Qualquer um que gaste seu tempo estudando o assunto, terá que concluir que o culto nas igrejas evangélicas está, falando de forma geral, indo à falência.” (A New Systematic Theology of the Christian Faith, p. 873).


[35] Westminster Theological Journal, #54 (1992) p. 131.


[36] Westminster Theological Journal, #55 (1993) p. 329. Em seu recente livro chamado Worship in Spirit and Truth, o professor John Frame também expressa aprovação para a dança litúrgica (a mudança aqui é claramente uma [mudança] de definição. A Assembleia de Westminster entendeu que os exemplos apostólicos são uma das formas pelos quais podemos saber o que Jesus ordenou. Cf. William Cunningham sobre a ligação entre os exemplos e práticas apostólicas com o direito divino em Historical Theology, 1:64-78, e James Bannerman, The Church of Christ, 2:201-213, 404-408, sobre os preceitos, exemplos e princípios das Escrituras).


[37] “O princípio regulador do culto, que diz que [devemos] guardar o povo de Deus das invenções do homem, é em si mesmo uma invenção do homem.” Rev. Steve Schlissel, All I Really Need to Know About Worship (parte I), p. 7.


[38] Esse é o nome que o Rev. Schlissel dá para aqueles que ainda crêem — e procuram botá-lo em prática de forma fiel — ao que ele chama de PRC.


[39] Messiah’s Mandate, Second Letter, 1999, p. 5


[40] A Confissão de Westminster diz que o culto consiste de várias “partes” (ou elementos), tais como a oração, pregação, leitura da Palavra, canto dos salmos e a administração dos sacramentos. O Dr. Vern Poythress não gosta dessa formulação, e redefine o culto de forma que nega que haja diferentes partes ou elementos, insistindo, na verdade, de que há apenas diferentes formas de fazer a mesma coisa (Para mais sobre isso, veja Michael Bushel, The Songs of Zion, p. 47, onde o autor corretamente diz: “livremente concrodamos que cantar, pregar, orar e ensinar têm certos aspectos em comum. Cantar, pregar e orar, em vários graus, manifestam ter a função de ensinar; também entendemos que há diferentes formas ou meios de aplicar a Palavra de Deus a dadas situações. Mas essa observação não resolve a questão sobre se cantar ou não é um elemento distinto ou separado do culto [...] Nós não afirmamos que tais são [...] elementos independentes do culto, mas alegamos que são separadamente ordenados e que, por serem distinguíveis uns dos outros, são distintos elementos do culto. Assim, afirmamos que uma garantia escriturística específica quanto ao conteúdo é demandado para cada um.”


[41] Westminster Theological Journal #54 (1992), p. 329.


[42] Catecismo Maior de Westminster, q. 3. (N. T.: “Que é a Palavra de Deus? As Escrituras Sagradas, o Velho e o Novo Testamento, são a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática. 2Tm 3.16; 2Pe 1.19, 21; Is 8.20; Lc 16.29, 31; Gl 1.8-9.”).


[43] Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens.” Confissão de Fé de Westminster, I, 6.


[44] Confissão de Fé de Westminster, XX, 2. (N. T.: "Só Deus é senhor da consciência, e ele deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que em qualquer coisa, sejam contrários à sua palavra ou que, em matéria de fé ou de culto estejam fora dela. Assim crer tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos como coisa de consciência é trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer para elas fé implícita e obediência cega e absoluta é destruir a liberdade de consciência e a mesma razão. Rom. 14:4, 10; Tiago 4:12; At. 4:19, e 5:29; Mat. 28:8-10; Col. 2:20-23; Gal. 1: 10, e 2:4-5, e 4:9-10, e 5: 1;. Rom, 14:23; At. 17:11; João 4:22; Jer. 8:9; I Ped. 3: 15.")


[45] Cf. notas de rodapé 34 e 40.


[46] N. T.: International Conference of Reformed Churches (Conferência Internacional das Igrejas Reformadas).


[47] Primeiramente a Reformed Churches of New Zealand fez uso da Ordem da Igreja impressa na edição de 1934 do Psalter Hymnal da Christian Reformed Church, no qual um número de dias especiais foram ordenados. A Ordem da Igreja revisada dizia: “Os serviços de culto nos outros dias além do Dia do Senhor são deixados à liberdade das igrejas.”


[48] Artigo 53. Essa revisão também paralisou o requerimento do uso das composições de louvor além dos Salmos


[49] Artigo 52. Não consigo ver que esse artigo preveniria um consistório, simplesmente permitindo que o curso regular da pregação catequética seja a única maneira pelo qual cada um desses eventos seja enfatizado. Talvez deveria também adicionar que a OPC nunca ordenou esse tipo de observância.


[50] A URCNA também impediu que o canto de hinos não inspirados fosse mandatório. Em sua Ordem da Igreja revisada, consta o seguinte: “Os 150 Salmos deverão ter primazia no louvor das igrejas. Hinos que refletem fiel e completamente o ensino das Escrituras, conforme expressos nas Três Formas da Unidade, poderão ser cantados, desde que sejam aprovados pelo consistório.” (Ênfases meus).


[51] Estou ciente do fato de que a Segunda Confissão Helvética é mais concessiva do que as outras confissões reformadas, mas é importante tomar nota do que [essa confissão] diz: “Ademais, se na liberdade cristã, as igrejas celebram de modo religioso a lembrança do nascimento do Senhor, a circuncisão, a paixão, a ressurreição e sua ascensão ao céu, bem como o envio do Espírito Santo sobre os discípulos, damos-lhes plena aprovação.” (XXIV, 3). Muito depende, aqui, sobre se ou não as palavras que destaquei recebem o seu devido [significado]. Outro artigo (XVIII, 14) da mesma confissão nos fornece uma luz importante: “Por conseguinte, ninguém tem o direito de proibir o retorno à antiga constituição da Igreja de Deus, e recorrer a isso com apoio no costume humano”. Conforme leio, me parece que significa que eu — e outros de mesma convicção, embora constituamos uma minoria — tenho o direito de aderir ao costume apostólico de não observar qualquer dia designado específica e anualmente, mas apenas o Dia do Senhor semanal. Se as palavras em itálico forem tomadas de forma séria, a Segunda Confissão Helvética está em harmonia com outras confissões reformadas.


[52]  É quase a mesma coisa quando se trata de cantar louvores a Deus no culto. Embora a Orthodox Presbyterian Church escolha (erradamente, na minha visão) aprovar dezenas de hinos não inspirados para serem inclusos no Trinity Hymnal — enquanto que, ao mesmo tempo, falhe em prover ao menos uma versão de cada salmo no saltério bíblico —, nunca foi buscado impor o canto desses [hinos] sobre aqueles que não podem cantar com consciência limpa. Ainda há uma considerável medida de respeito, em outras palavras, para a preocupação histórica que tentei articular neste artigo.


[53] “Por décadas, as igrejas evangélicas têm conduzido os seus cultos de forma a agradar os descrentes. Tanto o culto da geração passada, quanto o ‘culto de colheita’ (seeker service) de hoje, são moldados pela mesma preocupação: apelar aos desigrejados. Não é surpreendente que em nenhum caso ocorra o que pode ser chamado, pelos cristãos, de culto. Como resultado, muitos evangélicos que estiveram frequentando tais cultos de adoração por anos, percebem que suas almas estão secando, e [daí] começam a ansiar por outra coisa [...] A verdadeira cura para os problemas no culto contemporâneo será encontrada no culto simples, espiritual, substancial e sério da fé e liturgia reformada.” Dr. Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith, p. 873.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sete Razões porque Deus Envia Aflições - por William Perkins

Quem Pode Insituir as Ordenanças? - por William Binnie